terça-feira, fevereiro 13, 2007

Considerações sobre a participação no jornalismo

Os jornais almejam a objetividade e para isso tentam ser neutros, imparciais e precisos. Mas, por mais que se esforce em fazer um texto totalmente informativo (sem qualquer tipo de opinião sobre o fato descrito), ele sempre será carregado pela subjetividade daquele que escreve, pois o autor escolhe que informações serão as principais, e quais fatos ficarão de fora. E mesmo quando ao autor não cabe nenhuma margem para a criatividade, a ideologia do veículo ficará escondida no texto, sob o manto da objetividade.

A idéia do jornalismo participativo, ou jornalismo cidadão, é a de que o cidadão comum, o leigo sem os conhecimentos técnicos da prática jornalística, possa participar da produção de notícias, criando seus próprios textos. Por desconhecer as técnicas, o jornalista cidadão tem maior predisposição a colocar sua opinião nos textos que cria, produzindo, assim, textos em que a ideologia do autor não está escondida. Pelo contrário, encontra-se, muitas vezes, explícita no texto a opinião que o autor da matéria tem do fato que está sendo narrado. Como muitos podem opinião, e em geral não se está preso a um poder centralizador e a interesses comerciais, cria-se, assim, um espaço aberto à pluralidade de opiniões sobre os mais diversos assuntos.

Para que essa prática de jornalismo cidadão se concretize, é indispensável a contribuição das ferramentas tecnológicas. Assim, o cidadão pode participar através de diversos meios, como envio de e-mails, mensagens de celular, fotos, entre outros. Uma das formas de participação possível é o webjornalismo participativo, no qual os sites da web disponibilizam espaços para que produtores e receptores interajam na produção de notícias. As matérias são produzidas por leigos, que podem contar ou não com a colaboração de jornalistas para editar os textos ou selecionar as matérias de maior relevância. Muitas vezes, é a própria comunidade que se auto-organiza e define quais as matérias receberão destaque, quais serão barradas, e quais serão relegadas a um segundo plano. Há até mesmo páginas que permitem a postagem de notícias anônimas, de modo que o autor pode se sentir protegido para dar qualquer informação que se faça necessária. Assim, atinge-se um nível bem maior de liberdade de expressão, com relação à que se pode atingir na mídia tradicional.

A Web 2.0 entra nisso tudo ao propiciar o ambiente e as ferramentas necessárias para que a publicação de notícias na web se torne acessível a qualquer indivíduo, tanto no webjornalismo participativo, quanto em ferramentas individuais (como nos blogs). Muitos sites se baseiam totalmente na participação do usuário, fazendo da colaboração a matéria-prima. A contribuição pode ser desde em comentários ou em sugestão de tags, até a produção do próprio texto da notícia.

Dessa forma, a produção de notícias vai se socializando, e cada vez mais a tarefa de informar acaba sendo dividida pelo jornalista com seu público, o que torna movediças as fronteiras entre emissão e recepção. Em um cenário de participação ativa do leitor, qual o papel destinado ao jornalista? Ele se torna um mero reparador de erros, um verdadeiro copydesk das informações? Cabe a ele selecionar os fatos que serão destaque, ou intervir para que as notícias atinjam um certo grau de imparcialidade? Será que a web não estaria redefinindo o papel do jornalista para este meio? Essas são perguntas que somente o tempo, aliado a uma investigação minuciosa, poderá responder.

Nenhum comentário: